domingo, 2 de novembro de 2008

Suicídio Passional

Quarto escuro, velas espalhadas pelos cantos...
Choro, soluços e lágrimas de sangue escorrendo pelos pulsos...
Chuva lá fora, o telefone toca, mas os ouvidos já estão surdos...
O corpo adormecendo, a vista escurecendo, e no pensamento vendo toda a sua vida passar...
A secretária eletrônica atende, e a voz do outro lado pede insistente o perdão por não ter dito antes as palavras que agora pronunciava sem hesitar...
E diz um: "-eu te amo", e aos prantos desliga o celular...
Mas agora é tarde; o corpo já está falecido e a alma agora vai embora, e fica apenas o cheiro de vela queimada no ar.

(Suzana Lacerda)

2 comentários:

Anônimo disse...

Suzana, minha Lady... Você é prima do Lord Byron? Ou um codinome da Florbela Espanca? Lindíssima sua prosa poética, a contar os pingos de sangue nos ponteiros do tempo, este incessante que não perdoa o poder que as palavras deixam de ter quando a alma já não está...

Parabéns!

Anônimo disse...

Suzaninha, voltei para trazer-te fragmentos da Florbela Espanca, trechos de que gosto muito.
Espero que aprecies!

Eu …
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada… a dolorida…

(...)

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

...

O meu mundo não é como o dos outros,
quero demais, exijo demais,
há em mim uma sede de infinito,
uma angústia constante que nem eu mesma compreendo,
pois estou longe de ser uma pessoa;
sou antes uma exaltada, com uma alma intensa,
violenta, atormentada,
uma alma que não se sente bem onde está,
que tem saudade,
sei lá de quê!

Florbela Espanca

Beijos, e muita poesia na tua vida, minha querida.

Katyuscia Carvalho.